[História que me foi contada por um de seus protagonistas. Prestei uma atenção danada quando ouvi.]
Casamento monogâmico, heterossexual, classe média. Em dado momento a moça se viu cortejada por seu personal trainer, um belo e solteiro moço. Diante das insistentes investidas do rapaz, antes de lançar mão daquela velha máxima que diz que "a melhor forma de se livrar de uma tentação é ceder" ela o chamou para uma conversa da qual deixo de lado as tratativas iniciais e me concentro nos finalmentes:
— Querido, deixe eu te dizer: não vou para a cama com você.
— Mas... não entendo… o clima entre a gente... por quê?
— Sim, o clima, tem razão; então vou tentar te explicar. Quando tenho que fazer escolhas, penso em três palavras: poder, dever e desejar. E na situação da gente não é diferente.
— Como assim?
— É que sobre ir pra cama com você, não nego que desejar eu desejo. Ao mesmo tempo, poder eu posso, porque sei que tenho os meios pra ir pra sua casa, pro motel, pra onde eu quiser. Não existe nada, nem de ordem física ou econômica, que me impeça. Mas tem uma coisa que você já sabe: sou casada.
— Tá, mas e daí?
— Daí que o que o meu marido e eu escolhemos ter não é um relacionamento “não mono”, e isso tem implicações. Sei que ele iria ficar magoado, que eu vou sentir culpa por isso e provavelmente vou descobrir mais um monte de coisas não muito agradáveis depois. Ou seja, por esses e outros motivos entendo que não devo ir pra cama com você.
— Mas... mas você vai abrir mão do seu desejo?
— Não se trata de abrir mão do meu desejo, querido, trata-se de não ser prisioneira dele, achando que ele seja minha única régua para tomar uma decisão, mesmo que atender aos próprios desejos seja visto por muita gente como sinônimo de ser livre e de ser autêntico. Mas deixando as psicanalices e as filosofias de botequim de lado, meu anjo, te garanto que se um dia eu sentir que devo ir pra cama contigo é claro que você vai ser o primeiro a saber. Mas se isso vier a acontecer, torça muito pra que a gente não só possa, mas ainda deseje. Porque senão ou não vai ser ou será bem ruim.
que consciência!