Primo distante por parte de mãe e que a esta altura já bateu a caçuleta, pois quando do ocorrido, há bem mais do que cinquenta anos, jovenzinho ele já não era. De passagem pelo Brasil vindo diretamente de "Maiame", aportou em Santiago do Iguape, um vilarejo de pescadores na foz do Rio Paraguaçu, Baia de Todos os Santos. (Não se dê ao trabalho de procurar no mapa, pouco provável de achá-lo de tão pequeno que é.)
Chegou em grande estilo: num Simca Chambord conversível — sei lá se era mesmo conversível, foi assim que me contaram a história — e com vários capangas guardando-lhe as costas, já que a frente era bem defendida por um trabuco de razoável calibre — cuja procedência, se de cano longo ou curto, com número de série raspado ou não e que tais fico devendo —, além da presença ao seu lado uma gringa loura que diziam à boca miúda ser o seu esteio.
Após instalar-se num casebre cujo aluguel pagou regiamente e em espécie, resolveu cultivar histórias — e compartilho as poucas de que tomei ciência lá no chão mesmo onde os acontecimentos se deram. A primeira, não sei se no segundo ou no terceiro dia de sua estada na localidade, foi a do parente distante adentrar na igreja local montado num cavalo — uma igreja belíssima, bem na beira do rio, fundada nos idos de mil seiscentos e pouco, até o fim dos anos noventa em mau estado de conservação e que de tão grande parecia maior do que a própria vila. Uma vez lá dentro, sem sequer apear do animal, fez um pedido ao padre, lançando mão de algum argumento que pode que não fosse bom, mas decerto se mostrou convincente: que a autoridade eclesiástica à sua frente providenciasse o batismo do seu alazão. O seu desejo acabou sendo atendido, só não me informaram se o ocorrido se deu de forma discreta ou na base da festança, pois parece que ele era chegado numa. A segunda consistiu em espalhar aos quatro ventos que estava à procura de um primo ladrão, pois tinha pendengas a acertar, ah se tinha. E para terminar, tentando garantir que receberia ajuda dos locais, achou que um bom caminho seria soltar as amarras de suas línguas, distribuindo em cada venda e boteco que encontrou punhados de um pó alvíssimo, dizendo tratar-se do tal rapé do título, um tipo trazido "dos estrangeiros, lá dos Esteites”.
E para não me alongar mais neste relato, só digo que ele partiu sem resolver as pendengas com o primo ladrão, pois este se escafedera não se sabe como e nem para onde. Em compensação, para regozijo deste que vos fala por ter ganhado uma excêntrica história familiar para contar, acabou que os anciãos, anciões e anciães do vilarejo passaram a frequentar as biroscas locais pedindo sempre e sem nem pestanejar: "um pouco de rapé, fazendo o favor. Mas do outro, daquele branquinho lá."
sorte teve o primo que deu no pé