Conheci essa prática décadas atrás, quando perambulei por Santiago do Iguape, uma vila de pescadores e agricultores quilombolas situada na margem direita do rio Paraguaçu, a mesma que foi cenário do relato do rapé. Bom, se aquela foi história escutada, a de hoje foi história presenciada de manhã cedo, assim que a turma chegou. Esta é a fórmula que conheci por lá, a que mais me fez graça. Há de haver outras.
Ingredientes:
1 - Lua nova (ou será cheia? Terei que revisar isso...)
2 - Várias canoas
3 - Várias lamparinas (a gás, querosene ou o que estiver à mão. Evite velas)
4 - Alguns pescadores locais, seu Dozinho entre eles (alguém tem que manobrar a canoa)
5 - Cachaça à gosto (na região é o que não falta)
6 - Algum tira-gosto (são comuns por lá: camarão seco e amendoim cozido ou assado)
7 - Tempo de sobra
"Preparo":
1 - Pegue as canoas (não se preocupe, os pescadores fazem isso para você) e coloque no rio Paraguaçu, enfileiradas, presas umas nas outras, em sentido perpendicular ao rio
2 - Ponha ao menos uma lamparina em cada canoa
3 - Abasteça as canoas de cachaça e tira-gostos, em quantidade suficiente para passar a noite toda*
* Cuidado: não entupa a canoa de cachaça e camarão antes de saber se sobrou espaço para você e seus colegas de pescaria. Caso contrário, quem vai beber essa cachaça toda?
4 - Posicione-se confortavelmente em uma delas
5 - Uma vez no rio, acenda as lamparinas
6 - Deixe que as coisas aconteçam
6.1 - Que a maré da Baia de Todos os Santos suba, desloque as canoas rio acima, e depois traga vocês de volta
6.2 - Que os peixes, atraídos pela luz das lamparinas, pulem para dentro das canoas
7 - Sua principal atribuição: encher os cornos de cachaça, comer os tira-gostos, jogar conversa fora, observar os peixes fazendo o serviço por você e esperar o dia amanhecer. (Aprecie com a moderação que for possível.)
é para dividir a cachaça com os peixes?